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Apresentação
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santiago de novais
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flávio guerreiro bril
wladimir augusto
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o livro dos rancores (extratos)

o livro dos rancores


.1.
Tú, cão & tú.
cão negro não preto
guia da noite da morte
companheiro do dia da vida - desmedida!
desmesura-te e arrasta-te
manda pra berlinda a vida
deste homem-de-bem - e olhai
atentamente as almas que te rodeiam
pois saibas que sofrerás a fome,
que enquanto és vivo, celebras tú
e quando morreres celebrará tua alma.

Tú, bode & tú.
bode branco não branco
um para o dia da vida
outro para a noite da morte - consorte!
anorteia-te e afasta-te
arrasta pro nunca a vice-morte
deste homem-de-mal - diácono nefasto
afasta-o pra onde a palavra não fecunda -
imunda alma carregada com o pecado do teu povo,
bodoso banido do céu divino a errar pelas bouças:
pouca morte terás para a tua eterna ode.

bode-expiatório não dorme de touca.


.2.
estrelas deitadas em rasas poças
moças bonitas melhor não tê-las

casos de noites de amores morrido
ferido animal evade a largos passos

vida cruel agora tinhas tudo
mudo mundo de marcadas feridas

amarga testemunha céu obscuro
puro rancor que só em dor se alarga

enormes peitos composto adiposo
poroso tecido de formas desformes

bunda de bonitos contornos feita
arquétipo de minha libido imunda

abjeto órgão de larga bocaina
vagina cruel cuspidora de feto

herda destempero teu querer
você e nada é a mesma merda.


.3.
todo morto traz na cara
a marca do que viveu
cujo cunho pode estar no peito
feito o cunho que está no meu

todo morto tem uma vida
dia ou outro rogada a deus
heréu cabresto da própria sina
enzima azêda acometeu

todo morto bem morrido
jazido quer ser em jazida
que em vida escolheu.

aquilo que te mata, amigo
te digo que na mesma medida
sem dúvida também mata eu.



sinfoemas para elevadores


1.

... e passam as mulheres elegantes (& italianas)
nas passarelas esburacadas do centro de Milão,
com seus vestidos (italianos) &
seus cabelos (italianos) &
suas bolsas (italianas) &
suas sandálias (italianas)...
sozinhas, talvez procurem um varão italiano
que ao bem da verdade pode ser albanês
talvez não egípcio, tampouco marroquino
mas é certo que procuram um varão
para admirar suas sandálias & bolsas & cabelos & vestidos
puramente italianos.


2.

nada
me levou ao corpo
farto
de semear vento.

imenso
rodízio de criaturas,
agruras
despencadas sob céu.

anseio
olho mole pedra cor
brando
desalimento bantu.

tús
e mins por andaimes
mimeses:
descascar manhãs de ressaca.


nadas.


heresias

1.

alá
+ 66 deuses terríveis
queimam aloés negro

2.

bâqi o eterno e amável
de amor açucara o ar
com danûsh e nulûsh

3.

jâmi
reúne os terríveis
e os amáveis

4.

dayyân conta
65 sândalos vermelhos
ao sol

5.

hâdi com seus 20 guias
também busca sândalos
embora brancos

6.

wali
amigo de puyûsh e
raftmâ’il exala cânfora

7.

zaki
purifica o câncer
com água e mel

8.

haqq composto de
verdades e ódio e terra
composto

9.

tâhir
e o terrível desejo
santo de fogo

10.

yâsin chefe
atrai 130 folhas
de rosas de marte

20.

kâfi presumido folhas
de rosas brancas
e escorpiões

30.

latif separa as maçãs
benignas
para vênus

40.

malik rei de marmelo
leão terrível
de amor

50.

nûr
luz de ódio odor
jacinto libra amável

60.

sami’ ouve desejo
expresso nos diferentes
perfumes d’água

70.

’ali exaltado enriquece na
terra virgem da pimenta
branca

80.

fattâh que abre a noz
para o leão e a
hostilidade

90.

samad estabelecido sob
sol e intensidade
moscada

100.

qâdir
composto água desejo
peixe e vênus

200.

rab + 200 senhores
banham virgens com
água de rosas

300.

shafi’ aceita o escorpião
com aroma de aloés
branco

400.

tawwâb perdoa
a insônia de latyûsh e
azrâ’il

500.

thâbit
estável ódio e águas
sem peixes e águas

600.

khâliq criador de 731
violetas na terra de
capricórnio

700.

dhâkir se recorda dos
manjericões de fogo
em fogo

800.

dârr com ar cítiso
pune vênus
e aquário

900.

zâhir evidencia
1106 hostilidades
a ghafûpush e nurâ’il

1000.

ghafûr grande perdoador
despeja cravos-da-índia
na terra convalescente

o dia de são nunca

1.
achega-te a mim nega, diz em primeiro plano -
titubeante mas fluente - que sou, que faço, me abunda
incha minha bola de festim com estalido catalano
(estou absolutamente apático nesta segunda)

dou de comer & de beber a todo o ócio distraído
tapas & beijos & cavas a alegrias passageiras
imagino-me como uma puta de avenidas estrangeiras
a exibir um falso-brilhante já gasto e abatido

fecho as janelas, deito-me ao chão do equador
inevitavelmente ao sul, tanto por aquis como por lás
sempre voltarei para os flamboyants dos meus orixás

já posso me ver como um gris de flamejante topor
a consumir meus dias avindos e voluntários
lleno de estampas en los tejidos templários.


2.
alumia
incandesce o extremo norte
desse cachimbo boreal
e inala...
inala ao sul desce denso peyote
chicote açoita narinas & pulmões

alumia, alumia
bota voz & poder dentro nessa boca
abre braços & pernas prum leste-oeste qualquer
e constata...
está tudo tão cheio de deuses,
e deuses não arredam pé

alumia, alumia, alumia
explode veia temporal & fecha
o sabre-flecha d'cabeça escalpada
e arremata...
mata um pássaro hontem
com a pedra que atiraste oje.


3.

un, poema

dos
ballarinas

lo que me llevó
a pasear por los campos
fue mi incapacidad de bailar.

todos los juncos creídos
e invertidos u ostentados
no fueram bastant per a moverme
a través de mis inquietudes.

y se los campos son vastos y libres

d'altra banda la inquietud es estany,
on la possibilidad de aprendre a bailar
paira en el aire, incierta i malsegura
ja que observo la dansa de las ballarinas...

dos, poema

tres veces
me acerco de mi y no me veo
ni mis ojos o mi pared
pero sí siento lo que me persigue:
la noche partida y sudorosa...

no lo sé si es pecado o prohibido
solo sé que busco el fondo... hondo,
profundo.


pequeno tratado do desterro

No desterro, não é a distância que incomoda, mas o espaço.
"Guia Prático ao Sofrimento", Capítulo XLVII, versículo XXI

1.

parto como se saudoso fosse solitárionauta nessa ilha-verde-do-nada
cala-te num grito tão alto como o silêncio que aterroriza de branco
o canto escuro em que pensei poesia num dia claro de verão paulista
racista sem o filtro de aglutinantes cores em branco tampouco preto
quieto & ausente de sentido dele mesmo despresença axeviena e sinto
garimpo-galope louco de desejo com pexeira & verbo na boca em riste
saiste rápino como sempre & também saio eu deste ninho de conformes
disforme ninguém que fui & ao sair parto cu'a impressão de ir tarde

2.

meu coração opaco, minúsculo
músculo fraco de torta ação;
mesmo facão que fere meu peito,
efeito no teu não causa não.

então diga, qual lâmina é essa
que depressa corta e abre um vão
entre vontade e desejo, ardente,
rente ao juízo, fundo ao coração?

amor qual é esse, à sorte atirado,
temperado com ervas de fraco sabor;
se no amor enamorado já sou, enlevado,
desacertado então, amor torna-se dor.

soto sentimento virado do avesso,
confesso & impossível desde orto,
porto inseguro que às vezes careço,
do começo, já do começo natimorto.

2.

de algo me falto…

(a generosidade não
surge do acaso)
o medo do brilho
estrondoso

da futuridade.


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