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Apresentação
ari cândido
arnaldo xavier
dorival fontana
eduardo miranda
gey espinheira
marco rheis
roniwalter jatobá
santiago de novais
souzalopes
flávio guerreiro bril
wladimir augusto
Home

escárnio aos deuses

* * *

Cuidado com o jato,
Abaixe!
A ambulância atropela,
Salte!
ladrão é covarde,
Ataque!
O povo massacra,
Não pare!
Não corra,
Anotam sua chapa!
Não grite,
Todos aqui falam baixo!
Imploda,
Sem despertar a cidade!
Durma para sempre,
Mas acorde no horário...

ESCÁRNIO AOS DEUSES

Retire o feijão
que azeda
o seu estômago
pela boca
mais sórdida.
remova o lixo
que desce e o lixo
que sobe.
de esgoto à escroto,
de corpo à porco,
o tanto que te consome.
cubra o rosto
branco da latrina
com o excremento
escuro,
discorde, destoe.
remexa os intestinos
à procura de energia,
expulse os vermes,
as lombrigas.
mije a santa água,
beba a própria urina.
defeque um gemido,
um urro de alívio;
todo amor proibido,
todas virtudes falidas,
toda dor incontida...
controle o asco,
a raiva, as palavras,
a azia,
sufoque a ansiedade,
o tesão, a paixão,
a alegria
elimine pelos poros,
pelas pernas, pelo sangue,
pelas vias...
ojerize.
reviva o novo,
contemple o templo
placidamente,
ajoelhe-se perante
a placenta,
afetue-se
a todas as partes
do esqueleto,
cultue a carne podre,
reze aos decompositores
para que levem
em plena paz,
as cinzas
desse túmulo
tão valioso.
cuspam uns nos outros:
blasfêmias, catarros,
arrotos...
arranque o vômito
do fundo do seu peito
e o gás mais precioso
que sufoca o seu ventre.
palite os dentes
amarelos, pretos
e os ausentes
sem nenhum
constrangimento,
apanhe os restos
ruminados e atire
sobre a moral
dessa gente.
masturbe-se em público
sem pudor ou censura,
apanhe uma vara
longa e rígida,
mantenha o esperma vivo,
recoloque cuidadosamente
na vulva intumescida,
devolva àquele útero
cada gota, cada suspiro
do mesmo aborto
sombreado de vida
e com certeza
não deverás
mais porra nenhuma.

* * *

Olhos
se fitam,
se tocam,
brilham,
se movem...
procuram sempre
as mesmas respostas,
se encontram
quando se unem,
se completam,
quando os dois choram.

* * *

O sonho de amar
alimenta-se
corpo a corpo
enxerga o outro
devora-se

* * *

Fumar um
fumar dois
fumar o cinzeiro
pregar os olhos
acesos no travesseiro
enclausurar-se ao berço
viagens queimam a cabeça
carruagens parelhas
planos presságios
planam a noite imensa
movidos à corda
despertam em pedaços
os ponteiros TICTAQUEANDO

* * *

Onde estão os livros?
A mesa e a estante?
O semblante sorriso
Do amigo distante?
Se a festa acabou
e todos se foram!?
Restam os vestígios:
Os copos quebrados,
Os cinzeiros repletos
de sonho e fumaça...
O odor sem cheiro
Perdura no quarto.
A solidão hospedeira,
não tem porta ou retratos...
Quatro paredes vazias,
lisas e abstratas.
Mil olhos e ouvidos,
Sem rosto,
Sem palavras.

* * *

Bizarro animal.
Monstro obsceno.
Insólito mortal.
Afilado extremo.

Apure o odor.
Refine o ar.
Surpreenda a presa;
Fareje.

Balão de hidrogênio.
Invasor de ambiente.
Terceiro membro
Imponente.

Aquilino, protuberante.
Gigante sobressalente.
Fenômeno congênito,
Cata-vento portento.

Sempre à frente,
Respire e vente;
Roube o ar
Sem licença.

Meta-se onde
Não é chamado,
Pentelho
Inconseqüente.

O mundo é seu,
nariz de carreira,
Consuma todo
O oxigênio...

Cheire, cheire...

* * *

Dobre-se
princesa nua
abra-se
pernas curvas
mostre-se
toda lua
solte-se
dessa jaula
ejacula
encare-se
de quatro
de fato
tão duro
lança-se
quente
indiferente
na minha cara
tal qual a sua


Querer amar
poder querer
ter coração
bem me quer
mal me tem
muito mais
outra vez
ontem foi bom
amanhã talvez
gozar também

* * *

Olhos colorem
ídolos,
preferem alvos
postiços.
alimentar-se
em sonhos
a gotas de
colírio.
insinuar-se em
sorriso,
tão franco
como qualquer
mentira.
insaciável.
agressiva.
tanto faz,
tão repetitiva.
sem perguntar,
quem bem
a quer,
se bem queria.

* * *

Macacos de auditório
não comem banana,
dendrobatas de poltrona,
descascam seus cérebros,
sorteiam felicidade,
apostam suas vidas,
protagonizam excentricidades
num show de alegorias.
quem quer dinheiro?
quem quer emprego?
quem quer respeito?
sintonizar expectativa?
anestesiar suas angustias?
extrair da loteria:
diversão, distração e ilusão
para toda família?
hoje é dia de alegria,
confete e serpentina,
supositórios múltiplos,
para a cabeça do povo
faminto.

* * *

Hálito amargo,
gosto matutino,
habitual loucura,
loucura plena,
passageira ressaca
da segunda-feira.
lacrimejar fantasias,
babar as angústias,
vomitar desejos
em pedaços vivos.
Todo vurmo,
todo vírus,
reencarna o palhaço,
a pintura sem circo,
sóbrio de vida,
anônimo, triste...
fim de carnaval.

© casa pyndahýba ®
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