ferro
assopra meu avô
assopra no ouvido
do
filho do teu filho do que
não ouviu
que
não ouviu o grito não ouviu o galo
nem
galope e madrugada é ele quem
é
ele quem é ele por
que vive e não
destampa
do ouvido o vento e sua vela
sendo
sebo e chama é algo que
se apaga
ou
linho tenso sobre lenho
vide dobra
danzol
torcido certo meu avô assopra
e
o peixe disse eu tortura sofre
não
é com fé disse meu avô mas é com erro
que
se faz o ferro e meu pai mostrou
um
pau pegando fogo e no fogo a pedra
que
parte foi do chão até parece água
que
apaga a brasa e disse meu avô
que
ferro que avua viu meu pai falou
meu
pai falou este metal orafundido
é
tão pesado eu oradisse afunda nágua
aí força não há disse meu avô é no forjar
que se forma o ferro e falou meu
pai
que frágua que bigorna
e também falou
do marte e do martelo
e depois tem dia
de lenha ou
de lei e tem que meu avô
disse do vento aieste oi
o fole faz
um fogo vivo oieste ai cambono foi
que falo eu se é forjado é carbono sem
basta
bater o ferro disse meu avô
que
se faz o medo isto é moeda
de perdido peido ô merda submersa
ó
eleison kirie ó ave sob sabre
o
que restou da asa nem a liberdade
sobrou
meu pai falou esta merreca
na
mesa da miséria vide que
egesta
uma
bosta suja e eu falei é coisa
é
coisa da recusa é cu no parafuso
é
de ferro disse meu avô também
o cravo
e
também o prego e também é pouco
todo
perigo e meu pai falou um cego
faz
olho no arame e outro passa
rente
da
farpa fria e foi vazado e é vazio
o
prato do pobre então eu
disse a fome
é
um artigo triste é ferrugem
eu disse
e
foi-se toda posse aí disse meu avô
repousa
nesta quebra um finado osso
do
morto que morreu fulano sua ferida
será
do ferro ou foi da vida aí meu pai
falou
foi queda este defunto aquece
o
aço e reza o morte e todo ferro
terá
risco e depois corte e meu
avô
disse
da carne é fio que apodrece
ô
fibra que já fede ô coita que se tece
e eu o que falei aqui a alma cede
aí
dizia meu avô gemer gemer na nossa
língua
contra o ferro dói e ai daquela
cadela
ai do seu dente mas meu
pai
na
época diz oi como se acoita ai
um
pardo escorraçado esta pereba
de
ferro velho oi só
é mais tarde
um
gosto ai da lama e do lamento ai
da
língua eu falei foi do dejeto oi
do
dia ei se degemer degemerai
depois
disse meu avô agora o ferro
também
falece frio assim a faca
afoga
o canto um rio na
garganta
do
galo degolado morto aí meu
pai
falou
foi ferro e brasa é o que marca
um
boi bitelo novo e falou foi um
ferrão
no boi doente e eu disse é fero
revérbero
sem doce @ por
isso nasci hoje
carcoma
carcoma
tudo carcoma
a mãe do fome dizia
toda carne será podre
no desterro e terá dente
mordendo tarde carcoma
tudo carcoma carcoma
carcoma
tudo carcoma
o peito da mãe carcoma
cheiro
murcho de azedo
na parede que se abala
teve sangue nesta rede
teve ouro e carcoma
seu dono tudo
carcoma
a mão que o ama carcoma
tudo carcoma que
o corvo
nem passa nem
pousa na sorte
de um defunto urubu
que toda carniça
carcoma
aquela carne do nome
carcoma
tudo carcoma
lepra e carcoma a usada
usura
ulcera tal pedra
podre
se leva carcoma
seu nome seu
carcinoma
seu escrito de escroto
carcoma
tudo carcoma
um sol de sebo
na prensa
do medo que merda carcoma
a parte do verme a pátria
de todo defunto é seu morte
seu leste vindo sem vento
pedaço de peste no prato
tão triste tão
sujo caco
carcoma
tudo carcoma
carcoma
tudo até
seu dente senhora cair
tudo carcoma seu
dente
já podre com
precioso
osso no
riso carcoma
tudo senhora que é
seu riso carcoma
tudo
carcoma
o fel de quem ri
carcoma
tudo carcoma
o pão do pobre pisado
pesado nome do não
rasgado na rama sêca
do seu medo semeado
seu arremedo de nada
seu ódio seu
óbito frio
sua arma tudo
carcoma
carcoma
a luz que o viu
carcoma
tudo carcoma
o mundo que o pariu
no azinhavre da vida
e outros vizinhos do morte
carcoma
aquilo que sobra
também
carcoma esta lua
usada coisa de uivo
de poesia e de cão
a mãe do fome dizia
tudo carcoma carcoma