1.
Não estamos nem nus ainda
Amor tranqüilo é pura sorte
Por isto estou internado no
Hospital Para Pessoas Sem Amor
(todos os românticos só se fodem)
e fica no cu do mundo
2.
Perguntas sobre o passado
Deselegância repetitiva
Todo desjejum todo desjejum
A vida é aberta como romãs
Abertas e peladas
tão pornográfica e
Tão abarrotada de porquês
3.
Nem me lembro de ter sido Átila
Lembro dos parentes mortos
Como posso sê-lo, tão calado
Hoje sou eu mesmo
De modo menos definitivo
Que nas férias
Não sou eu que me enfado
Se todos estão em Casas de Loucos
É que ando vivo e na minha
4.
Manter os movimentos nos objetos
Nas coisas todas em que tocou
Como se fossem mexidas de pouco
Assim parece que ainda andas em vulto
A bulir nas coisas com cuidados de ladrão
E rouba-me, leva-me, lava-me, deixa eu
Não deixa eu.
5.
Hoje me jogaria na frente dos automóveis
Pela última vez te vi e pegaria uma boléia
Nada de deusmelivres, ia-me,
Pela décima vez
Pela ónzima vez
É melhor não ir-me triste aos diabos,
Que morrer-me um velho fausto despeitado.
6.
Realidade só pralém de mim
Mais de trinta preciso de tinta
E se tivesse de dar nome ao mundo
Não lhe chamaria o que chama
A toda hora tudo precisa de batismo
7.
Para lá do tempo fui atirado como um dardo
Para antes como um cometa
E para o agora penugem
8.
Aqui te encontro meu tempestivo combatente
Como Spartacus lutando sozinho
na Frígia
Ter guardado a espada não é vantagem,
é suado
E para não retomar este tema epopéico e clássico
Só para dizer que do mesmo modo ao fim da ceia
Me meto no meio do nada, nada não sendo
Boas Novas
De uma avenida cinzenta e sem beleza lixada do vento
Eu disposto na realidade como um sashimi evangélico
Tal brilho do astro no trem espanhol
Mascavo minha vida como mordendo fio de navalha
Pássaro nebuloso, águia fortuita, bico espartilho.
9.
Me invade hoje de manhã
Um desespero grande
Tipo grande e existencial
Como de grotas frias
Que esperam verdes seus minutos
de sol
Como das bergamotas
Que esperam em gomos
Como esoeram as maçãs
Como todo o que se posto à mesa
Só hoje amanheceu mais simples
Frutas baratas, encontradas em quantidade
As bananas tão sem pressa deitadas na fruteira
Só ficam pintadinhas primeiro, depois enegrecem
Depois acabam não prestando mais, já muito cheirosas
E costumam ficar tranqüilas nos sacos pretos de lixo
Como um travesti debaixo de garoa no mes de julho.
10.
stereo playing almodóvar,
nós na cama é o bicho
gato
rondando curioso
tinha medo,
mas vi tais
fotos, tipo o que fazer
nada vou
levar, hálito, esperma, rememberings
espremem lasso meu ânimo
sou um iceberg com calda quente,
tatuado nas
costas de
desenho tribal.
11.
não é justo hipotenusa
mais ser assim trilógico
Zé te chama de Medusa
mêmo no Marais
vamos ver o rapáis neste repas
de ser insólita a vida cansa
mêmo no Marais
mais ver assim com estes óculos é ridículo
um rádice, apicórtice, cartesiano
Zé te leva pro Beauborg.
12.
sonata no armário mente solta as
gavetas
gorgoléu fábio não liga e árvore faz perguntas
qualé, floo sem respostas, nada objetivo
ora, eu não, sou uma coluna frigia estacada
tudo já houvera em mim e fora simples
ora, logo eu, um bretão, du midi noveau.
13.
Pairava entre nós uma dúvida
Figuras crestadas cinabres árvores
Te escondias, como posso acreditar!
Eu que sei é bem pouco
Parar um escuro no meio da retina
Paira entre a lua afina e violina
Círculos imensos me anunciavam: chuva
Eis que ventou.
14.
menino olha meus olhos e não sei onde olho o
15.
sou como se não estivesse como sou
e mole como um juá dormindo sol do sítio
tô maria mole de vendinha,
doce de abóbora
de coração: 20 centavos
de peito: 200 m nado livre
medley: nem vi
16.
luzia velha
detrás do baú uma outra ria
era eu não era ela
Uiraquitã a nossa Medéia dos trópicos
cabelos pretos tal prisma malê
oriunda dos astros malaios
disse: