|
|
ORIKI PARA ARNALDO XAVIER
quando você axévier dos emails da memória chegar vai ser bom que não briguemos como você brigou muitas
vezes por uma opinião uma divergência ou uma antipatia
melhor vai ser, xavier, deixarmos aflorar você daqueles seus versos de que seu parceiro gereba nos deu
notícia: “o rio são francisco é uma lágrima doce que desce pelo rosto de minas” este arnaldo
vai nos valer mais a pena agora entre tantos que você foi o cangaceiro e sua peixeira verbal que lhe rendeu
reações dos adversários até pelas vias de fato era um menino apaixonado por brincar de munganga e fabricar palavras-bombas o
cangaceiro precisa descansar de suas brigas contra os fantasmas do amor, das inimizades e da morte axévier,
agora você aprendeu de vez o que já sabia: o que nos mata e nos torna assassinos cotidianos é nosso medo de amar nossa
economia de afeto nosso apego às grades e algemas morais da formação deformada que recebemos ao longo dos anos o
que nos mata e nos torna agentes dos pequenos assassinatos é o cultivo da mágoa, do rancor, da raiva o que nos faz suicidas
e assassinos nas relações cotidianas é desprezar a sabedoria do perdão que não é palavra apenas dita da boca pra
fora mas aquela onda que vem de dentro inunda de boa vontade nosso interior espalhando luz à nossa volta o
cangaceiro xavier já aprendeu para sempre: é mais que urgente a necessidade de aprendermos amar diferente de assumirmos
a nossa e a liberdade do outro pois tudo passa e o passado precisa ser nosso amigo para que possamos recebê-lo
com prazer em suas constantes visitas o arnaldo dos muitos amigos o arnaldo de algumas mulheres o arnaldo
dos filhos assumidos e não assumidos o arnaldo dos projetos para descaotizar o trânsito de são paulo o arnaldo gélèdés o
arnaldo salve o corinthians o arnaldo phyndaíba o arnaldo das múltiplas parcerias o arnaldo que ninguém conhecia nem
sempre disse mas sabia que jamais o outro será o que nós queremos que ele seja por isso a sua “transnegressão” por
isso, perguntava: “por que o horizontal não pode dormir com o vertical?” e dizia: “cumpad, eu não tenho
ódio não” quando acossado em uma conversa dura no deserto das armas agora além de seus textos convidativos
para a viagem pelo desafio da linguagem e da negritude você é luz de memória é luz de metáfora pois que muitas
vezes por medo de dizer “eu te amo” acabamos por murmurar “eu te odeio” e o que se diz quase
sempre não é o que gostaríamos de ter dito e por causa do interdito o sentido mora no escuro do olhar, da pele, do
espanto, da dúvida e só vem à tona quando a ele emprestamos a nossa luz assim obesos de mentiras ou
jejuamos ou teremos que fazer doloridas lipoaspirações sem contar o incômodo de sustentar por anos a fio o peso do
orgulho, da vaidade, do ciúme, da inveja e do ódio axévier, que este luto não seja mais uma luta de nossas
contradições de viver e sim um desprendimento de tudo uma profunda e pacífica meditação é mais que urgente que
aprendamos a amar diferente antes que seja tarde quando você, axévier, chegar em nossos emails de memória haveremos
de ter o coração aberto para recebê-lo com o nosso abraço e servi-lo uma refrescante água de coco aquela da mais
profunda sensibilidade da nossa paz e leveza que tua passagem e lembrança nos sejam um bálsamo para
continuarmos a viagem. (cuti)
|
|
|