Eduardo Miranda

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pequeno tratado do desterro

aqui tem muito
de tudo. tanto
de tudo que
o coração parece
estourar.

e meus olhos abandonaram minha face e a órbita dos meus olhos e minha boca costurada por dentro com tripa de cavalo pardo e fotos esquecidas de minha boca e meu nariz afundado em areias brancas de praias lunares de meu nariz e minhas orelhas cortadas em v polvilhadas em feijão de corda cru de minhas orelhas

aqui tem muito
de tudo. tanto
de tudo que
meu coração arrancado
voou longe.


"viver é hereditário"
amália brandão de souza, psicografada por souzalopes

tome suas centenas de causos de volta
sua intolerância e sua impaciência
todas suas certezas e convicções
seu prestígio não reconhecido

sua genialidade e seu brilhantismo
e todas as suas soluções
de nada valem para mim...
e seja bem-vindo.

você ficou muito tempo
longe do mundo:

o mundo sentiu sua falta.


eu,
alumiado no centro do mundo
e mesmo assim foste às compras

não havia fósforos de papel
ou espumas prontas

retornaste
com a dignidade poupada
no bolso esquerdo do vestido

(aquele não
costurado).


decepção.
uma grande decepção.
o que sinto não passa de uma enorme
e vazia decepção.

à parte isto, tudo vai bem

poderiam as pessoas se respeitarem mutuamente
plenamente os serviços - quem diria - funcionarem
e ao menos em sonhos prestarem os devidos
indícios do que se prestam fazer
mas não. insistem nas assimetrias -
o cigarro no ônibus, o assento duplamente ocupado com bagagem, o lixo deixado para trás, o espaço alheio invadido, descompromisso, inassiduidades

chega! estou cansado de gente estúpida!

pensara estúpidos apenas ali ou além... não!
estúpidos há em toda a parte, de todas as nacionalidades, cores, credos, gostos, desgostos, descredos, descores, desnacionalidades: despessoas.

e tudo não passa de uma grande decepção.
uma enorme e vazia decepção.
imensurável, incontrolável, imutável
decepção.


foges da dor maestro
pasto seco e nobre.
cobre a tua face fosca
pessoa de pouca sorte.
a morte não escolhe
pobre para um trote.
garrote serrote faca
nada muda o mote.
ainda morre-se por comida:
milícia-nos ao céu.




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