Eduardo Miranda

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soltos & dispersos

manter o movimento das coisas
nas coisas todas que tocaste
como se mexidas há pouco
no pouco tempo que ficaste.

e parece que ainda andas de vulto
inulto bulir das coisas com precisão
de ladrão: rouba-me, leva-me, lava-me,
sirva-te de mim, mas não deixa eu não.


alumia
incandesce o extremo norte
desse cachimbo boreal
e inala...

inala ao sul desce denso peyote
chicote açoita narinas & pulmões

alumia, alumia
bota voz & poder dentro nessa boca
abre braços & pernas prum leste-oeste qualquer
e constata...

está tudo tão cheio de deuses,
e deuses não arredam pé

alumia, alumia, alumia
explode veia temporal & fecha
o sabre-flecha d'cabeça escalpada
e arremata...

mata um pássaro hontem
com a pedra que atiraste oje.


dos poemas mediterráneos
*

un poema

dos
ballarinas

lo que me llevó
a pasear por los campos
fue mi incapacidad de bailar.

todos los juncos creídos
e invertidos u ostentados
no fueram bastant per a moverme
a través de mis inquietudes.

y se los campos son vastos y libres
d'altra banda la inquietud es estany,
on la possibilidad de aprendre a bailar
paira en el aire, incierta i malsegura
ja que observo la dansa de las ballarinas...

* *
dos poema

me acerco de mi y no me veo
ni mis ojos o mi pared
pero sí siento lo que me persigue:
la noche partida y sudorosa...

no lo sé si es pecado o prohibido
solo sé que busco el fondo... hondo,
profundo.


eu e minha boca ferida, leiloada ao silêncio
numa manhã desprovida de pássaros e sem lascas de sol.
uma nudez de alguma ausência anuncia um acontecimento:

busco devolver o corpo ao corpo... do corpo aos corpos
depois de tudo o que passei:

joões-de-barro despencados galho a galho
pedras desfolhadas em saveiros estelares
surpreso ao constatar que algo em mim ainda cresça,
(apesar de tudo)

a dureza,

à dureza,
àa dureza.
àà dureza.

nascido em fevereiro,
como poderia endomingar-me?


gosto do cheiro do mar
do cheiro do mato
da chuva, da terra...
gosto de cheiros.

tudo começou assim, com cheiros.
cheiros são minha memória
e cada vez que sinto o cheiro da chuva,
da terra, do mato ou do mar,
e constato que não há nem sinal de você
o cheiro não traz o gosto -
se é que você me entende...


soy un pescador
de avanzada edad
y navego solo
solo por necesidad.

necesidad de estar
en total tranquilidad
pero sinto lo pesar
de una otra necesidad.

necessitat de tener
alguien para acariciar
pero tras de açò afecte
restes diversa cosa qu'estimar.

i si amar solo no és possible
i tota possibilitat és plena
soy adoncs un amante eteri
en una eteridat terrena.


meu coração opaco, minúsculo
músculo fraco de torta ação;
o mesmo facão que fere teu peito,
efeito no meu não causa não.

então diga, qual lâmina é essa
que depressa corta e abre um vão
entre vontade e desejo, ardente,
rente ao juízo, fundo ao coração?

amor qual é esse, à sorte atirado,
temperado com tempero de fraco sabor;
pois se enamorado já estou, enlevado,
desacertado então, amor torna-se dor.

soto sentimento virado do avesso,
confesso e sabido impossível de orto,
porto inseguro do que às vezes careço,
do começo... já do começo natimorto.


arnaldianas

*
r. oda a dor
i. nevitavelmente
p. ara sempre

* *
neste ano
jazz-me-ei-te
em (26/1)2004 subtons

* * *
a recusa da prosa)
subsenhor sucumbe(
ékatómbe azul:
blue...
profundamente blue


achega-te a mim nega, diz em primeiro plano -
titubeante mas fluente - que sou, que faço, me abunda
incha minha bola de festim com estalido catalano
(estou absolutamente apático nesta segunda)

dou de comer & de beber a todo o ócio distraído
tapas & beijos & cavas a alegrias passageiras
imagino-me como uma puta de avenidas estrangeiras
a exibir um falso-brilhante já gasto e abatido

fecho as janelas, deito-me ao chão do equador
inevitavelmente ao sul, tanto por aquis como por lás
sempre voltarei para os flamboyants dos meus orixás

já posso me ver como um gris de flamejante topor
a consumir meus dias avindos e voluntários
lleno de estampas en los tejidos templarios.


parto como se saudoso fosse solitárionauta nessa ilha-verde-do-nada
calo-me num grito tão alto como o silêncio que aterroriza de branco
o canto escuro em que pensei poesia num dia claro de verão paulista
racista sem o filtro de aglutinantes cores em branco tampouco preto
quieto & ausente de sentido dele mesmo despresença axeviena e sinto
garimpo-galope louco de desejo com pexeira & verbo na boca em riste
saiste rápino como sempre & também saio eu deste ninho de conformes
disforme ninguém que fui & ao sair parto cu'a impressão de ir tarde

poesia, literarura & afins